quinta-feira, 30 de junho de 2011

Dona


“País de mestiços, onde branco não tem força para organizar uma Ku Klux Klan, é um país perdido” (Monteiro Lobato, capa da Bravo de maio de 2010).


A pauta pode até estar atrasada, mas há dois meses não conseguia ler o diabo da revista. Férias, viagens, trabalho, problemas, problemas e problemas. Hoje, chegando em casa naquele-momento-comigo-mesmo, tentando me atualizar das últimas e dos parangolés da cultura, me deparei com essa e ali mesmo já tinha decidido meu tema do dia: preconceito. 

Mas, ainda tentando me recompor do choque e pensando em como seria o post – pulei a matéria da capa, óbvio –, viro mais algumas páginas e a revista me joga na cara uma matéria de título “não posso mais, eu quero é viver na orgia”.

Opa! Curiosidade aguçada, me identifiquei. Vamos lá...

Tratava-se do novo CD de Adriana Calcanhotto, O Micróbio do Samba, que traz partes como estas e passagens como “Eu não sou mais quem você deixou, amor. Vou à Lapa decotada, viro todas, beijo bem. Madrugada, sou da lira. Manhãzinha, de ninguém. Noite alta é meu dia, e a orgia é meu bem”.

Bom, sei lá. Não sou fã, mas já simpatizava com a moça pela ode aos cariocas da gema (http://letras.terra.com.br/adriana-calcanhotto/43853/), mega-influenciado pelo choque com Monteiro... Li.

Li tudo e resolvi falar DELAS. E como estão diferentes, ahm?

Antes, doninhas, santinhas, quietinhas. Não podiam nem manifestar seus desejos, prazeres, vontades, só rolava a reprodução. Direito a voto? Nem pensar.

Agora? Foda-se, não estão nem aí. O meu nariz é meu, o umbigo é meu, eu dou pra quem eu quiser. Amélia? É uma velha. Botar água no feijão, nem morta. Estão mais lindas, leves, soltas e querem (e se querem!). Querem também largar da gente, viver, transar, se posicionar... fazem até marcha as vagabundas! E podem, como podem.

Tentar lê-las, impossível. Entendê-las, jamais. Negociação, não há. O jeito? Aceitar. E nessa toada de “finas, elegantes e sinceras”, a gente endoida. Aparecem, a gente quer. Olham, a gente pisca. Querem, a gente desconfia. Ligam, a gente sorri. Não ligam, a gente... é, a gente não entende e fica doido também. Aparecem, a gente treme. Ficam, a gente goza. Nos deixam, a gente sofre...

Afinal, de quem é a culpa se elas são macias, cheirosas, bonitas, inteligentes e (também) boas de cama? E ai de quem questionar o direito de ainda assim serem sensíveis, terem TPM, medo de barata, de escuro, de sombra, de quererem que a gente busque, leve, traga, espere...

E nesse ciclo vicioso (e virtuoso), suponho que nem Chico conseguiria... é, meu cumpade, já era.

Claro, lamentosos os episódios como os de Monteiro (#putaquepariu). Mais lamentoso ainda saber que ainda existe muita gente como ele. É, tipo “gente igual a gente” invertido, sabe? Só que do mal. Tipo Bolsonaro e Myriam Rios? Beijinho, beijinho. Blau, Blau.


É lindo ver os opostos, as duas matérias na mesma revista. Estamos no caminho certo? 
Não sei.


Bom mesmo é saber que elas querem, podem e fazem.
A gente? Cozinha, passa, leva, busca, espera, gosta, olha e quer... só quer.






















Eu apoio.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Fui, mas não vi.


Rock’n roll, mais do que um ritmo, um estilo de vida que inspira há décadas a música, a moda e o comportamento de milhares de pessoas pelo mundo. O rock também mobiliza o mercado musical mundial por meio da venda de milhões de discos e produções espetaculares que encontram suporte na multidão enlouquecida e fanática por seus ídolos. Bandas de rock que são consideradas ícones deste estilo não têm fãs, têm seguidores.

O motivo da introdução acima? No último fim de semana Em fevereiro de 2006, o Rio de Janeiro recebeu o maior show de rock da história, da maior banda ainda na ativa: os Rolling Stones. Os superlativos não param por aí: o público chegando 12 horas antes do horário previsto, 10.000 policiais, o bairro de Copacabana completamente tomado por turistas de todas as partes do mundo, enfim, cerca de 1 milhão e meio de pessoas para assistir ao show dos criadores de Satisfaction. A capital do samba, a Copacabana de Vinícius e Tom, transformada, momentaneamente, na capital mundial do rock.

Todos queriam pegar uma carona na “marca Stones”. A prefeitura investiu, empresas de telefonia bancaram e artistas globais, políticos moderninhos e aparecidos de plantão estamparam o “amor” à banda londrina em todos os jornais do país. Ao contrário do que afirmou a imprensa, porém, o clima estava longe da geração “paz e amor” (que já curtia Rolling Stones) e nem todos ficaram satisfeitos.

A oportunidade de produzir o maior show da história seduziu os organizadores, que contaram muito mais com a sorte do que com a infraestrutura montada para evitar uma tragédia em grande escala. Já as pequenas tragédias diárias, infelizmente, tão presentes na Cidade Maravilhosa, marcaram presença: turistas assaltados, enfermaria lotada (inclusive dois esfaqueados e um traumatismo craniano) e ambulâncias sem conseguir acesso livre nas vias que saiam do bairro.

A ausência de um sistema de som lateral também foi um grande “furo” da produção. Quem estava na Avenida Atlântica ou no mar (incluindo os hóspedes riquíssimos do Copacabana Palace, onde os próprios Stones se hospedaram, e quem pagou até mil reais por um lugar nos iates) escutou apenas ruídos do que seria Wild Horses e as demais músicas da A Big Band Tour.

Ver era impossível. Faltando mais de cinco horas para o início do show, o espaço já estava completamente tomado. A única possibilidade de assistir Jagger e sua trupe era pelo telão, na ponta dos pés e segurando para não ser levado pela multidão. Para os milhares de turistas que foram ao Rio de Janeiro – geraram renda para o comércio e para a rede hoteleira da cidade – e não conseguiram assistir ao show foi, no mínimo, frustrante.

Perto dali (e muito perto do palco), uma pequena parcela de privilegiados, porém, escutou, viu, bebeu, comeu e aproveitou. Nos camarotes “só para convidados”, Start me Up fazia muito mais sentido. No maior show gratuito da história, ser vip era fundamental.



Mas não vi.

Matéria divulgada no Jornal Sul de Minas, em fevereiro de 2006 (com colaboração fundamental de Júlia Moysés). Em homenagem a Frederico Diniz Oliveira, um dos meus primeiros leitores.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Encanto-me

Vez em quando, encanto-me.


Encantam-me as coisas. Encantam-me os sonhos.
Encanta-me o menos. Encantam-me pessoas.
A arte a mim encanta. Quem canta, nem sempre os males espanta.

Encantam-me os povos. Enojam-me os jogos.
Encantam-me os novos. Renovam-me os velhos.
Disfarço-me de certo. Desfaço-me do perto.
A arte a mim encanta. E até você: canta?

Enoja-me o santo. Encanta-me o espanto.
Encantam-me detalhes. Encantam-nos milhares.
Tateiam-me os sujos. Me faço nos entulhos.
A arte a mim encanta. E até você, que nem me canta.

Espanta-me o incerto. Encanta-me o de perto.
Acerta-me a alma. Receio pela calma.
Assusta-me a hora. Revele-me, agora.
A arte a mim encanta. E até você, encanta.

Encantam-me os pássaros. Enjaulam-me os podres.
Encantam-me os de lá. Disfarço-me de cá.
Baseio-me no aqui. Nem sei se estou aqui.
Eu quero estar lá. Encanta-me, não vá.
A arte a mim encanta. E até você, eterno mantra.

Vez em quando, encanto-me. 
Vez em sempre, disfarço-me.
Toda vez, desfaço-me.

Encanto-me, pois posso. Escrevo, porque gosto.
A arte a mim encanta. E até você, que nem é santa.


segunda-feira, 27 de junho de 2011

Metade


Porque metade de mim é cor. E a outra metade, não.
Metade de mim é paixão. A outra metade, razão.
Metade de mim é morango. A outra metade, limão.
Metade de mim é saudade. A outra metade, vontade.
Metade de mim é Cartola. A outra metade, Copolla.
Metade de mim, Bossa Nova. A outra metade, só nova.
Metade de mim quer silêncio. A outra metade, gritar.
Metade de mim só pensa. A outra metade, escreve.
Metade de mim é vírgula. A outra metade, é ponto.
Metade de mim é Nietsche. A outra metade, triste.
Metade de mim é rock. A outra metade, scotch.
Metade de mim, chora. A outra metade, quer.
Metade de mim, desvia. A outra metade, vai.
Metade de mim é arte. A outra metade, faz parte.
Metade de mim é pequena. A outra metade,vulcão.
Metade de mim só quer. A outra metade, consente.
Metade de mim é amor. A outra metade, tesão.
Metade de mim debocha. A outra metade, sorri.
Metade de mim foi embora. A outra metade, não.
Metade de mim é agora. A outra metade, não sei.
O meu equilíbrio é o desequilíbrio.
Porque metade de mim quer viver. E a outra metade, também.

Obra: Desvio para o Vermelho (Cildo Merelles) / créditos: Eduardo Eckenfels 

sábado, 25 de junho de 2011

Amigos, amigos e gente igual a gente

Ir para a cidade que nasci no feriado foi, no mínimo, controverso, curioso e revelador.

Nessa tarefa complicada de me (re) descobrir e me reinventar, têm surgido diversas outras revelações. Descobri, por exemplo, que existem três tipos de gente que passam pelas nossas vidas (vamos combinar que família não conta, OK?). 

Existem amigos de infância, existem os meus amigos e existe gente que é igual a gente.

Amigos de infância você gosta porque gosta. Te viram nascer, te viram crescer, te viram sofrer. Te conheceram antes da faculdade, das questões profissionais, dos amores e dos desamores. O primeiro porre, a primeira briga, a primeira aventura. De fato, todas (ou quase todas) "as primeiras". Não há admiração ou escolha envolvidas, a gente simplesmente gosta, é confortado pelo excesso de intimidade e um ou dez anos não fazem a mínima diferença no convívio e no apego.

Já os meus amigos são aqueles que escolhi. Fiz ao longo da vida. Você os escolhe, por uma afinidade ou outra, e simplesmente os faz. Os traz para o seu universo. Independem de família, criação ou origem. São aqueles que vocês escolhe como os seus favoritos. Não participaram das primeiras, mas com certeza das melhores.

E gente que é igual a gente... a gente simplesmente acha. Podem estar na esquina, no buteco, na escola ao lado, no mesmo bairro, mas às vezes a gente passa dez anos sem percebê-los. E como é bom saber que existe gente como a gente. Energiza, conforta e, de alguma maneira, a gente acaba descobrindo alguém com quem compartilhar certos raciocínios, idéias, angústias, desejos e prazeres, independente de amizade ou intimidade à toda prova. Gente igual a gente são potenciais amigos, poderiam ter sido os da infância, mas, até mesmo porque a gente não escolhe, simplesmente aparecem no momento certo.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Pra quê???

Tentei escrever para um jornal e ser profissional de xadrez. Larguei.
Arrisquei um badminton e um hóquei no gelo. Machuquei.
Formei em turismo. Mudei.
Pintei minha casa e tentei decorar. Parei.
Comprei móveis maiores que a casa e que conversam entre si. Viajei.
Comecei a ler quatro livros no último semestre. Não terminei.
Comecei minha monografia da pós. Não entreguei.

Achei fotos antigas. Queimei.
Tentei ser professor. Neguei.
Tive insônia. Fumei.
Tentei escrever loucamente. Empolguei.

Mas, me pergunto: por quê um blog agora? Não sei.

A todos os corajosos que toparem se aventurar:
sejam bem-vindos.