sábado, 7 de março de 2015

À espera de quê

Já não escrevo como outrora, ainda que na verdade eu já tivesse mudado muito antes de resolver publicar um livro. E quando já não cabia mais em mim, como costumam fazer os filhos mais sapecas, escapuliu como eu menos esperava e se materializou em tom de festa. Da escrita, me lembro pouco. Tampouco das histórias que ali inventei, ou que apenas contei. As minúsculas já não fazem tanto sentido e todas as Ninas, Eulálias e Emílias simplesmente fugiram ao que havia de mais puro à época das leituras ininterruptas de Zambra. A palavra envelheceu, e, embora estivesse em estado iminente de partida, não morreu. As ideias evoluíram e a vida, como havia de ser, apenas deu mais um passo rumo ao desconhecido. E é nesse lugar incômodo onde me encontro por agora, sensivelmente perdido à espera de quê. E é do tanto esperar que o corpo se move na ansiedade da busca, porque era preciso, evidentemente, provocar um reencontro qualquer. 

sábado, 24 de janeiro de 2015

sintonia do breu

regar as palavras, 
temperar a escrita.
dispor as cadeiras a prosearem entre si.
vermelho, amarelo.
reinam e dão vida à sala vazia na calada da noite.
silêncio, a maior parte do tempo era assim.
orquestra do meu corpo.
plantas assobiam,
gotas batucam no telhado.
é tempo de renascer:
a palavra ainda não morreu.