quarta-feira, 29 de junho de 2011

Fui, mas não vi.


Rock’n roll, mais do que um ritmo, um estilo de vida que inspira há décadas a música, a moda e o comportamento de milhares de pessoas pelo mundo. O rock também mobiliza o mercado musical mundial por meio da venda de milhões de discos e produções espetaculares que encontram suporte na multidão enlouquecida e fanática por seus ídolos. Bandas de rock que são consideradas ícones deste estilo não têm fãs, têm seguidores.

O motivo da introdução acima? No último fim de semana Em fevereiro de 2006, o Rio de Janeiro recebeu o maior show de rock da história, da maior banda ainda na ativa: os Rolling Stones. Os superlativos não param por aí: o público chegando 12 horas antes do horário previsto, 10.000 policiais, o bairro de Copacabana completamente tomado por turistas de todas as partes do mundo, enfim, cerca de 1 milhão e meio de pessoas para assistir ao show dos criadores de Satisfaction. A capital do samba, a Copacabana de Vinícius e Tom, transformada, momentaneamente, na capital mundial do rock.

Todos queriam pegar uma carona na “marca Stones”. A prefeitura investiu, empresas de telefonia bancaram e artistas globais, políticos moderninhos e aparecidos de plantão estamparam o “amor” à banda londrina em todos os jornais do país. Ao contrário do que afirmou a imprensa, porém, o clima estava longe da geração “paz e amor” (que já curtia Rolling Stones) e nem todos ficaram satisfeitos.

A oportunidade de produzir o maior show da história seduziu os organizadores, que contaram muito mais com a sorte do que com a infraestrutura montada para evitar uma tragédia em grande escala. Já as pequenas tragédias diárias, infelizmente, tão presentes na Cidade Maravilhosa, marcaram presença: turistas assaltados, enfermaria lotada (inclusive dois esfaqueados e um traumatismo craniano) e ambulâncias sem conseguir acesso livre nas vias que saiam do bairro.

A ausência de um sistema de som lateral também foi um grande “furo” da produção. Quem estava na Avenida Atlântica ou no mar (incluindo os hóspedes riquíssimos do Copacabana Palace, onde os próprios Stones se hospedaram, e quem pagou até mil reais por um lugar nos iates) escutou apenas ruídos do que seria Wild Horses e as demais músicas da A Big Band Tour.

Ver era impossível. Faltando mais de cinco horas para o início do show, o espaço já estava completamente tomado. A única possibilidade de assistir Jagger e sua trupe era pelo telão, na ponta dos pés e segurando para não ser levado pela multidão. Para os milhares de turistas que foram ao Rio de Janeiro – geraram renda para o comércio e para a rede hoteleira da cidade – e não conseguiram assistir ao show foi, no mínimo, frustrante.

Perto dali (e muito perto do palco), uma pequena parcela de privilegiados, porém, escutou, viu, bebeu, comeu e aproveitou. Nos camarotes “só para convidados”, Start me Up fazia muito mais sentido. No maior show gratuito da história, ser vip era fundamental.



Mas não vi.

Matéria divulgada no Jornal Sul de Minas, em fevereiro de 2006 (com colaboração fundamental de Júlia Moysés). Em homenagem a Frederico Diniz Oliveira, um dos meus primeiros leitores.

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