terça-feira, 27 de novembro de 2012

procurando...


ando precisando empenhar-me em projetos e ideias que me deem mais tesão.
ando precisando de mim.

acontecem certas coisas em dias comuns que fazem-lhe questionar novamente  algumas condutas. muito. a morte próxima, o novo, o incerto, de tudo um pouco ao mesmo tempo. um emprego bom, a roupa de marca, certo dinheiro no bolso, a viagem para o exterior que acontece todos os anos, a leve despreocupação com as contas a pagar ou com o que vem depois, o carro do ano, a aparente segurança.

diríamos equilíbrio.
razão.

e de que vale, no final das contas - e mesmo que seja mais um clichê - se não vale ao mesmo tempo nada? desequilíbrio. eu busco desequilíbrio. e quero gente desequilibrada ao meu redor. quero amigos que me façam desequilibrados, que me questionem e me façam como sou. que gostem-me como sou, pois na mesma medida desmedida lhes entregarei em troca. entregar-lhes-ei flores. muitas.

um desemprego bom, uma roupa que apenas cubra o corpo desnudo, o dinheiro na medida certa, a viagem ao (meu) interior, a sensação de que as contas pagas valham de fato cada centavo gasto, uma bicicleta e um carro mais antigo para levar-me onde quer que seja, uma insegurança que me leve além. além de mim e da aparente segurança impregnada em um medo-bolha que cobre-me os dias.

diríamos desequilíbrio. diríamos emoção. diríamos, então, vida.
caos-motor.
vida.

ando precisando de mim.
ando precisando empenhar-me em projetos e ideias que me deem mais tesão.
ando precisando ir.
ou vir.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

delicadeza


talvez não quisesse por agora,
você também talvez não.
não esperava, não esperávamos,
não cavávamos desmedidos em meio ao caos anunciado.
histórias, mudanças,
poemas, o novo.
de novo.
existem flores do lado de lá,
talvez existam de cá também.
talvez.
o acaso impávido e suave à porta.
revelação.

sussurrava o vento coincidente.
silenciosos e em química como a receita talvez sugerisse
encontramo-nos neste setembro.
é primavera!
e houve o toque.
e houve a pele.
e houve o impávido e suave acaso batendo à porta.
ouve.
houve o inesperado presente.
instantes.
o inevitável desejo à espreita:
sentido antigo que esvai, sinto.
sentido antigo que esvai, vai...

eu em busca de mim e da leveza impalpável,
ao encontro do meu corpo.
tu em busca de ti e da tua verdadeira face, dos teus verdadeiros gestos,
do teu mais sincero e estúpido gozo.
límpido.
quero-te em pitadas. quero-te limpa. quero-te tua. crua.
queira-me como podes, ou como queres, ou como podes querer-me. nu.
queiramo-nos como pudermos ser: leves.
não há urgência. mas há sinais.
o corpo fala. diz muito.
tem vezes grita.
urra! _________,
sentido vem.
vem...
palavras-tom.
som!

queira-me em silêncio. querer-te-ei assim também.
não me prometa muito, não lhe prometo nada.
não me prometa nada, não lhe prometo a vida.
mas lhe prometo vida.
vida.
apenas venha fresta e olha-me nos olhos, por enquanto.
beije-me o teu beijo vermelho.
a tua boca vermelha, os teus lábios vermelhos.
suja-me todo e sinta-me em teu corpo.
tocar-te-ei sem cócegas então como tocam o céu as andorinhas.
como os mais puros acordes arranham-te as costelas.
tocar-te-ei as entranhas até o gozo mais estúpido e límpido da tua alma.
vivo.
e olhar-te-ei enfim como olham os olhos mais possíveis desse impávido e suave acaso.
livres.

sinta-se no instante. deixe se impor sobre o tempo.
o tempo. o tempo. o tempo.
relógio-tempo.
entrega-me um conto e devolver-te-ei uma carta.
sinta-te em teu corpo e suja-te toda com os teus dedos,
olha-te em teu beijo e beije o teu próprio rosto com as tuas palavras doces,
a tua boca vermelha, os teus lindos lábios vermelhos.
despeça-se viva,
viva!
e toque-se na medida mais estreme da leveza encontrada.
me encontrarás por lá também.
sintamos os sintomas.
sintamos.
sintomas.
uma flor do lado de cá.
uma rosa do lado de lá:
papeis em branco a preencher.
deixe impor-se tácito o tempo no tempo, no tempo, no tempo
relógio-tempo,
e seja como for mesmo no breu do presente:
__________, nova!

escorra-me os teus beijos vermelhos, os teus lábios vermelhos,
a tua boca vermelha, o teu sangue vermelho.
escorra-me toda a delicadeza e a tua verdade impregnadas no teu corpo,
jorra-me!, goza-me!,
goza-me todo!
goza-me todo!
goza-me todo delicadeza!
todo!
delicadeza!
limpa-te e goza-me todo o teu gozo mais estúpido e límpido sem a pressa de termos,
ou sem a pressa de sermos,
ou de tocarmos as nossas entranhas impalpáveis.
aceitemo-nos sem os espinhos do relógio-tempo no que nos há de melhor por agora,
impávidos,
chamemo-nos suave acaso, ao acaso, e sejamos então,
e enfim.
a urgência mata.
mata.
mata.
goza-me inteiro, 
e por agora.
______________!
dois pontos:

domingo, 4 de novembro de 2012

conto encontrado


sabiam-se opostos perfeitos de tão imperfeitos. o acaso os presenteava naquele instante inesperado. partidas mal feitas, chegadas aceitas. aquele cara era o estranho perfeito e a aquela bela moça era o incerto aceito. conheceram-se numa dessas noites quase frias e chuvosas de primavera, embriagaram-se em suaves pitadas do inevitável toque à espreita e despediram-se com os rostos colados sabendo que talvez não pudessem se encontrar novamente tão cedo. mas queriam muito porque já se sentiam um pouco um ao outro desde o primeiro olhar encontrado. ela queria entender por que a tinha procurado naquele instante inesperado em meio ao caos dos dias que se anunciavam e provar um pouco mais do gosto suave dos seus lindos lábios do acaso. ele queria saber mais sobre os seus sonhos, tocar a sua pele límpida e macia como na primeira vez e sentir novamente o cheiro do seu ventre pulsante em suas mãos. queriam ver o mar sob os seus próprios olhos e queriam também andar novamente de mãos dadas no meio da multidão pelas ruas históricas da cidade repetindo os gestos encontrados no breu daquela noite quase fria e chuvosa de primavera.

sabiam-se opostos perfeitos de tão imperfeitos e aceitaram-se em química. não havia outro nome para aquele encontro do acaso. química. os seus lindos lábios suaves a esperavam, a sua pele límpida e macia o pedia piamente. os seus olhos a viam de longe e a sua carne permanecia-se trêmula mesmo à distância. carregaram consigo desde o primeiro instante inesperado um desejo súbito de seguirem adiante com o conto encontrado mesmo que não comentassem o saudosismo instantâneo que tomou-os desde a primeira despedida e a certeza do inevitável agora entranhada na memória. a vida lá fora passava inútil e estúpida, e mesmo que nada tivesse acontecido no primeiro encontro e que já soubessem de certa forma que outros dias bonitos como aqueles ainda estavam por vir porque queriam-se novamente tocando as nuvens com os rostos colados, sabiam-se seus desde aquele instante inesperado e que mais impossível do que se reverem tão cedo como o conto encontrado ao acaso sugeria-os era a possibilidade de aceitarem-se longe um do outro depois daquela noite quase fria e chuvosa de primavera quando se beijaram pela primeira vez.