segunda-feira, 23 de julho de 2012

Há em mim um desejo insuportável


Eu não saberia dizer ao certo quando ou onde ou porque tudo isso começou, mas o fato é que de uns tempos pra cá há em mim um desejo insuportável de me declarar, de verbalizar o que as minhas entranhas transcendem à minha pele, e aos meus gestos, e ao meu jeito cafona de lidar com isso, pois ando sorrindo só de pensar em um dia nos encontrarmos de novo, e inteiros pra gente, sinto-te tão perto e distante ao mesmo passo desconhecida, quem sabe um café ou um vinho no bar que você costuma frequentar às dezesseis e trinta ou uma fugidinha para a serra vizinha aqui da cidade, talvez, um esbarrão na rua ou trabalharmos juntos novamente como ontem, melhor, uma pipoca com filmes numa tarde dessas chuvosas de domingo ou um concerto pela manhã no parque mais bonito da cidade, ou naquela praça lá no alto do morro dos prazeres, vamos?, ou simplesmente deixarmos tudo de lado e sentarmos a conversar em qualquer lugar que seja agora, ou na semana que vem, não arriscaria revelar-me ansioso desta vez, saberei esperar para entender um pouco mais sobre essas suas coisas novas, para papearmos sobre coisas boas, sobre coisas bregas e sobre coisas à toa, desimportantes, refletirmos sobre a vida, sobre essa intensidade que nos colocou outro dia um de frente ao outro ou sobre esse quase um pouco de tudo pela metade que vem se revelando pra gente em gotículas de possibilidades desde uns tempos pra cá.

Mas sinto-me inseguro, na mesma medida em que parecemo-nos cartas marcadas, confesso, pois não sei qual seria a tua reação, se sim ou se não, talvez um talvez, pois no fundo ainda não conheço muito bem esse teu jeito gentil de revelar-se aos poucos, essas pequenas e felizes coincidências, esse teu jeito simples de surpreender-se com muito pouco de mim, mas surpreender-me com muito de ti despretensiosamente quando surge com esse teu peito aberto e essa tua beleza sem igual não revelada pela tua verdadeira face não menos bela e charmosa, pois devo confessar que me estranhou esse reencontro, se assim posso chamá-lo sequer sabendo se você realmente existe ou existirá em mim um dia, insista, insistirei, e também por não me dar conta de que talvez eu deva esperar, quem sabe devamos, o momento em que teremos mais uma ou duas dessas pequenas trocas de olhares despercebidas em meio à multidão, como na primeira vez em que nos vimos naquele jardim florido no início da primavera de outrora ou como na última vez em que paramos um de frente ao outro aceitando-nos aquela cena em frente à tua casa como se um sempre naquele milésimo de segundo, como se a derradeira chama, como se um olhar que sempre esteve ali diante de nós e dentro de nós para a eternidade daquele instante, naquele instante, eu fixamente olhando nos teus e você desesperadamente pedindo os meus em brasa.

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