domingo, 7 de outubro de 2012

Para o mundo que eu quero descer!


Antes de mais nada, eu não topo nada com você. Que saiba logo. Afinal, você quer rodar comigo porque acha que sabe em quem eu voto. Você me ignora porque acha que o pessoal que anda comigo não é da sua turma. Você tem medo de mim porque sabe que eu sou o seu oposto. Você me persegue e fala mal de mim porque acha que eu quero te derrubar. Você coloca adesivos duvidosos em seu carro e acha que isso passaria batido por mim ou que talvez eu fosse idiota o suficiente para aceitar-te e dar-te as minhas mãos. Não sou da tua laia. Percebe que eu nunca entreguei-lhe um sorriso sequer? Percebe que eu nunca ri das tuas piadas escrotas e de mau gosto? Você não usa vermelho. Você não veste laranja. Você não tem cor, é cinza, é do tipo que come quieto pelas beiradas com as suas patas meticulosas, com os seus gestos friamente calculados e maltrata o sujeito humano sem pensar duas vezes. Você não está aí para quem está ao seu redor. Você tratora a tudo e a todos. Você faz movimentos ocultos para chegar ao poder. Você é interlocutor com o diabo. Você é cruel. Você é o meu avesso e eu não preciso-o para me entender. Para existir. Para resistir. Prefiro à minha maneira. Prefiro a minha maneira. A minha e a dos meus pares. Você é tão besta que até hoje não sabe quem sou eu, mesmo que eu já tenha lhe dado dicas o suficiente para facilitar as suas investidas. Você me suporta, mas não eu a você. Você me admira e no fundo queria ser como eu, decente, mas a você não, a você não devo uma singela palavra de agradecimento ou respeito ou cumplicidade. Você não conhece quem anda comigo. Você não conhece gente. Você não é gente! A você, meu caro ilustre maligno e desconhecido, apenas o meu pesar e o comentário mais desgostoso que eu poderia soltar-lhe: aqui não. Não hoje, não amanhã e talvez nunca mais, quem sabe em breve.

Você é sanguessuga por poder. Você é anti-cultura, é anti-povo, é anti-gente. Você, sendo como é, é tudo que eu jamais sonhei, pensei ou planejei em ter lado a lado algum dia. Você não tem a menor ideia de quem eu seja ou do que eu seja capaz e repetir não custa nada. Eu não te quero perto de mim, pois você, sendo você e sendo o avesso daquilo que quero para o meu mundo, para esse mundo onde vivem pessoas, sobretudo, me faz mais eu: leal, justo e digno aos meus pares. Eu tenho amigos, e você? Alivia-me saber que as pessoas como você duram pouco onde estão. O tempo passa, sabe? Reconfortam-me as suas palavras tortas e esse seu jeito sem-jeito semi-diabólico porque nem isso você é capaz de ser, pois não tramite a mim e àqueles sujeitos estranhos que andam comigo nenhuma ideia ou proposta com propriedade de quem é um cidadão ou de quem apenas aceita viver num mundo de gente igual. Me deixa feliz por não saber nada disso. Você é tolo. Você não é fino, elegante e nem sincero. Você é do mau. Você é do mau. Vo-cê-é-do-mau! Eu tenho um carro vermelho, eu adoro suco de laranja, eu parei de torcer para o cruzeiro, eu pulei carnaval de sunga pelas ruas da nossa cidade e eu sou gente, sobretudo, e sou de bem. Você não cabe aqui do meu lado porque eu só ando com gente de bem, sabe? E eu procuro por gente de bem. E talvez por isso, também, você seja incapaz em entender-me em minha plenitude ou aceitar esse meu jeito descolado, justo e vivo de ser. Bem.

Você se derrete por mim e me quer ao teu lado porque não é capaz de interagir com gente. Com a gente. Com gente como a gente. Você precisa de mim e de gente como eu. Mas não mais, não por agora. Tem vezes que chego a pensar: qual é a educação que tu dá para os teus filhos? Que o menino do sinal é bandido? Que o moço do saco vai roubá-lo? Que andar de ônibus é perigoso? Que a mocinha que mora na favela é bandida ou mulher de traficante? Que só pobre estuda em escola pública? Que os pobrezinhos do bairro não podem jogar bola na mesma rua que eles? Que só se frequenta bares em lourdes, que só se anda a pé no mangabeiras e que amigo legal é aquele que se faz no minas tênis? Que preto é pobre? Que gay é demo? Que é feio se posicionar? Para o mundo que eu quero descer!!! Nesse seu mundo eu não vivo, não me pertente, o meu lugar não é do teu lado, jamais, não é onde eu quero estar. Hoje a revolta me pegou e ninguém me segura, mesmo que talvez seja tarde. Não suporto violência gerada pelo (des)funcionamento público, não suporto mediocridade pela falta de educação, não suporto a imposição na ausência de política genuína, efetiva e com P maiúsculo. Só é consciente quem vota em quem cuida de gente. Só é gente quem gosta de gente. E você, cara pálida, não é nada disso. E simples assim. O meu peito está vermelho de tanto sangrento e os olhos esbugalhados por justiça e paz. Mais amor, por favor, e mais respeito no mundo também. Vou atrás, então, e convocando todos os meus melhores nessa procissão que um dia há de gritar: dignidade! Se não nós, quem? Para o mundo que eu quero descer...

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