quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

pedaço de papel


mudei-me, mudou-se, mudamos juntos. não somos mais o que éramos há tão pouco antes desse verão. muito embora impreciso, esse estranho desejo anunciado no último encontro às cegas na sala antiga de parede vermelha cutuca-me tão belo e agressivo em algum lugar ainda intocável do corpo vazio que não consigo sequer me mover. não encontro-o ou não consigo ainda tocá-lo, mas sinto-o com tanta força. sinto-o tão próximo com muita e tanta força querendo-me invariavelmente seu e ligeiramente entregue à possibilidade do reencontro que ouso-me arriscar capaz de aceitar-me mais pulsante e estupidamente forte à ideia dos delicados e estremes toques até o gozo estúpido que sequer pudemos nos permitir nesse último encontro.

e onde vai dar?, se há de haver reencontro?, se daqui a pouco ou no próximo verão?. pouco importa!, nada importa!, nada ou pouco importa em aceitarmos mesmo tardia a possibilidade do reencontro a gozarmo-nos a alma intacta para que possamos enfim sugar-nos das melindras entranhas a urgência desse hoje impreciso. pois o que fica dessa viagem interrompida, desse conto encontrado em desejo estranho no corpo vazio, é que os dias viraram-se do avesso a imaginar-me pintando-te a aquarela nos seios macios com as novas flores e os novos sabores, e com as novas cores servidas com o gosto límpido das tuas puras verdades desprendidas da vidraça estilhaçada além de mim. e mesmo que não houvesse reencontro por agora, e há de haver algum dia?, guardar-te-ei junto ao peito inerte todas as sílabas sequer pronunciadas e que jamais caberiam-me ao singelo pedaço de papel que dispenso-te hoje junto ao ano que esvai porque amo-te muito mesmo sem saber amar.

Um comentário:

  1. passeando por aqui, (re) li esse lindo conto encontrado.
    pedaços de papel e de amor me transbordam a alma. e essa escrita da vida que a gente faz juntos e me faz te amar e querer te amar ainda mais. diariamente.

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