quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Confusão

Não sei se é bom ou ruim, mas enfrentar as confusas intempéries da vida faz lembrar-me de você. É, você mesmo, que havia fugido por alguns instantes daí do seu lugar cativo. Meu amigo, convenhamos. Você é descolado, deixa a barba por fazer, pois é assim que as meninas gostam, sempre tenta acompanhar os movimentos contemporâneos daqui da cidade e de todo o mundo. Esta sempre aí. É melancólico que só Deus, um pouco chato, egocêntrico, sistemático e egoísta, no sentido mais leve da palavra, mas, tudo bem, é só às vezes mesmo.

O seu blazer azul, a sua blusa vermelha e o seu chapéu panamá revelam-te belo. Você até tenta fingir, mas no fundo é um cara bem bacana. Só um pouquinho acima da média, que é para não se convencer. Você se amarra em arte, escreve bem, tem um blog, alguns seguidores, bons amigos, bom emprego, mora sozinho, é inteligente e é também sincero, bem sucedido e não tem quase nenhum preconceito. É, mas só quase. Você adora um vinho, uma cerveja, uma cachaça e encara até um champanhe, se preciso for, e quando encara bebe até cair. 

Você fuma, bom, você fuma. Mas, ver você fumar todos aqueles cigarros, confesso, é uma inspiração ininterrupta. Você e o seu cigarro... que dupla, que rito, que passagem, que celebração do seu próprio eu. Ver você te celebrando é lindo. Fiquei sabendo que você adora se arriscar na cozinha e sabe até dançar um pouquinho. Vai para o mato sempre que possível, se joga, mas adora aquelas cidades bem cosmopolitas também. Simpático que só você, transita muito bem entre todos esses universos. Nos movimentos esquerdistas, nas ondas cultas, cults e moderninhas. Tenta se aceitar como tem que ser e encanta, mesmo que só a alguns.

E é assim. Você é um cara que consegue ser sem nunca antes ter sido. E acho também que você se daria ao luxo de transformar-se em qualquer coisa apenas para que se sinta melhor. Vejo também que adora novas experiências, não é? É, vejo que adora e paro por aqui. Percebo uma atitude cotidiana um pouco distante aos nojentos mundanos, uma lealdade absurda aos pares e percebo, ainda, que adora viajar e que, se preciso for, você reflete, reflete, reflete. E também chora, se derrete, se joga no mar, se joga do abismo, se destrói e depois tenta. Tenta se reconstruir. É, mas ver você assim é duro. Você já foi desejado um dia, então carregue contigo a certeza de que o será novamente, às vezes até na esquina da sua própria casa. Mas, lembre-se: se desejar é ainda mais importante.

Sei lá porque eu disse tudo isso, se o que eu queria mesmo era de te pedir apenas uma coisinha. Ao contrário de Vinícius, que se nascesse de novo iria querer um pinto um pouquinho maior, se eu fosse você eu escolheria uma pitadinha a mais de sal, doçura, desapego, amor próprio e de maturidade para assumir que você, espelho meu, também sou eu.

Um comentário:

  1. "Chorar onde eu chorei qualquer um chorava, dar a volta por cima que eu dei quero ver quem dava..."

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