sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

O último do ano

E que o ano que vem não tenha filtros, não tenha diques, não tenha lama. Que o ano novo não tenha caos, não tenha chatos, mas que tenha amigos e até inimigos, pois é necessário. Que o ano que vem não tenha tralhas, não tenha trapos e que não tenha, suplico, nenhuma vidraça. Porque eu odeio as vidraças. Mas que, tendo, se porventura aparecerem, essas sapecas, que eu veja cores, que eu veja gente, que eu veja tudo. Que eu veja a minha vida em vermelho e amarelo, as minhas preferidas, que eu veja os meus pares do lado de cá e não mais por detrás, que eu veja só reflexos do nada em meio ao tudo, em meio ao antro em que me buscaram, ou que eu veja simples devaneios, que seja, mas que mesmo assim eu consiga perceber que é a vida me chamando, ou o mundo me secando, ou apenas o novo proclamando mais uma de suas sábias profecias. Venha. E que num tiro certeiro, único, de súbito, no primeiro minuto do ano que vem, em meio a foguetórios e festas em todo país, em todos os cantos do mundo, em cada esquina, que eu esteja em mim, comigo, na festa da minha alma, numa celebração só minha, do tipo egoísta, que eu vá ao meu encontro e que eu consiga lançar um último olhar maroto para trás, para o ano que fica, e perceba são, lúcido e, enfim, cada minucioso detalhe do seu derradeiro ato: a vidraça estilhaçada. Fui.

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