quarta-feira, 30 de maio de 2012

Acho que Neruda não ligaria...


Porque a escrita é livre. E a cópia também. E eu só me dou ao luxo de copiar pouquíssimas coisas, dessas do tipo escolhidas a dedo, sofridas em cada vírgula e tocantes na alma. Coisas que aproprio de súbito, principalmente vindas de quem eu admiro muito, dessa gente vadia e libertina com quem eu naturalmente toparia uma noite dessas do tipo intermináveis, do tipo pra sempre, do tipo a base de muitos tragos, e de muitas risadas, e colorida, e de um romantismo imprevisível ao qual me entrego diariamente com uma máquina de escrever a tiracolo. Essa coisinha aqui é do Neruda, que tenho amado tanto, acho que como o Vinícius, pode ser que sim. Pois ambos me entendem. E me decifram também. Acho que a gente dialoga sem que eles saibam, tem vezes, pois absorvo cada ato, e cada gesto, e cada gole, e cada morte, e cada vida, são várias, e mesmo à distância no tempo, e mesmo em minha insignificante existência aqui de baixo, inalcançável, e mesmo sabendo que não, que talvez nunca haja encontro. Tanto é que outro dia resolvi aceitar meio que a contra-gosto e coloquei-me no meu verdadeiro posto, no único que tenho direito, permitindo-me apenas que essa foto aí do lado, tirada numa dessas intermináveis, de tanta inveja fosse direto para a parede da minha casa casa para que eu pudesse, enfim, alimentar o meu ego ferido, e deprimido, e então chamá-los de meus amigos, de poetinhas, de camaradas, e chamá-la de minha, a foto, por que não, e a poesia também.

Saudade

Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...

Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.

E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido. 

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