sexta-feira, 25 de maio de 2012

Ando não querendo saber...


Ando não querendo saber muito de você, e de como andam os seus dias, e as suas frieiras, e as suas feridas, e os seus calos, se você ainda dá as suas corridinhas ou não, serelepe que era, se viajou nas férias, se ainda gosta de sorvete de chocolate, ou se agora é de doce de leite, ando fugindo-me dessa procura, da tua ausência, não quero ver-te ou ouvir-te, cansado estou de suas investidas intencionalmente escancaradas em fazer-me não distante da dor, e das suas histórias, e das suas estripulias, e das suas novas companhias, e dos seus antigos amigos também, não me interessa saber como será que anda esse teu jeito cafona de amar, de me fazer sorrir, pois ensinou-me bem, ou a sua fé de que um dia seríamos um só, juntos, até velhinhos, e que eu morreria antes que você sequer pensasse em partir ou que eu pensasse em redimir-me de mim, tanto teu que eu fui um dia.

Ando não querendo saber muito de você, mas não sai de mim onipresente que é, e dói, e então te encontro na rua, no clube, na padaria, nas viagens, nas músicas, nos livros, nos discos, nas calçadas, e na escrita também, não sai de mim porque não quer, vadia, é a maneira que escolheu de controlar-me à distância, posto que cômoda é a maneira de fazer-me eterno amante, seu, mesmo de cá, distante, nosso e do nosso amor jogado na lixeira da esquina da tua casa outro dia, mas não dá pra ser assim, não consigo, é mais forte que eu, carrego-te comigo em todas as pontes e em todas as feridas mal cicatrizadas, esteve comigo em Roma, em Paris, na Bahia, em Betim, em Berlim quando encontrei o Neruda também, fumamos muito, e tomamos uísque nas mesmas mesas que até hoje preparo para os nossos amigos imaginários, e quando tomo Malbec você também está presente em taça vazia, louco que fiquei depois que foi-se, e quando fumo na janela do trabalho observando os carros passarem também é difícil, pois tu estarás comigo por muito tempo ainda, pois desisti-me de mim e de tentar mudar tudo isso assim de uma hora pra outra, o trajeto da história, a própria história, eu, você, não luto mais com algo inestimável, contra algo muito maior do que a gente, do que a vida, do que o próprio amor, pois o amor, ah! o amor, uma vez amor sempre amor.

Ando não querendo saber muito de você e às vezes consigo, mas tem vezes que não, e então procuro no teu blog ou na tua rede social preferida, remexo nas gavetas largadas e mal resolvidas, encardidas, acho cartas e rebusco-me na alma, tolo que sou, escrevo, transcrevo, vou naquela pracinha antiga em que nos conhecemos e fico sozinho olhando as árvores por horas, e as folhas, e as crianças, e o moço da sanfona, e o do algodão-doce, e as flores também, e olha que nem estão mais tão bonitas como no mês passado, fico triste às vezes, mas a primavera está chegando e poderei voltar lá com mais calma, quem sabe, apreciar o outrora, ver a gente meio que de longe, apego-me a isto vez em quando e apeguei-me também, outro dia no metrô, a recordar de uma época em que íamos juntos para a aula, sofrimento que era, mas lindo também, fazíamos com que a estação do Eldorado se transformasse em ponto de partida e de chegada para o momento em que entrelaçávamo-nos em nós mesmos, e nos dávamos as mãos, nos entregávamos e andávamos de mãos dadas tipo namorados, apaixonados que estávamos, bonito que era, e pleno também, e rumávamos em direção a um nada que se revelava tudo pra gente, inteiros era o mínimo pra gente, e pro nosso amor, mas ando não querendo saber muito de você, sabe, assim de longe, e a seu respeito, pois dói no peito, pois dói nas unhas, pois dói na alma, e dá saudades, me dilacera, não quero mais, pobre rapaz, não sou capaz.

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