domingo, 27 de maio de 2012

sabático


há muito venho detectando alguns sinais em meu corpo, não chegam a cicatrizes, mas marcam-me, é hora de parar, talvez, cuidar um pouco mais de mim, fazer um novo corte no cabelo, os poucos fios que tenho, comprar roupas mais coloridas, chicletes, algodões-doces, aprender a fotografar, ler novos livros, ver outros filmes mais belos, andar em marcha ré, acelerar, esquiar na neve, viajar de balão, tomar um café em Paris e sorvetes de vida em um quarteirão qualquer de Amsterdã, escalar montanhas, as mais altas, desenjaular-me dos dias, dos frios, sobretudo, experimentar bebidas novas, coisas novas, comidinhas exóticas, o novo, e escrever também porque é preciso, entender-me um pouco mais, recolocar-me em órbita, aceitar-me de uma maneira um pouco mais singela e leve da que me percebo ante ao espelho quando acordo em dias como hoje. o redor caminha bem, é verdade, e o trabalho também, e me deixa até satisfeito, projetos e convites não faltam, propostas, mas sinto-me infeliz na mesma medida em que tudo parece tão bem, há um vazio intocável e que precisa ser preenchido, e prestes está, mas indecifrável também. à minha volta, detecto, há um misto de luz e esperança, uma fumaça de paz, uma coisa suave de sentir, sensação estranha, porque não caibo mais em mim, e já tentei diversas vezes, forças não me faltam, e nem faltarão, mas sinto ainda que poderia muito mais do que como ando entregando-me aos meus dias gélidos que andam. quem sabe então um sabático, por hora, não seja o que eu precise, algo assim que ressignifique a alma, que revitalize esses dias sombrios e reorganize a calma, a minha, ansioso que sou, porque o problema não está em ficar ou partir, antes fosse, em ir embora ou abandonar tudo e começar do zero, de novo, em carne trêmula como a de um novato, ingrato, relapso e coadjuvante como ando, mas em reconduzir-me a mim, encontrar-me, sentir-me esbelto e recondicionar-me no agora,  no meu agora, no tempo recolocar-me, quem sabe, pois é preciso, pois é possível, pois angustiado estou no lugar comum do qual me ausento às vezes e aqui, entendendo-me como eu mereço, ou como estimo merecer um dia, já não dá mais.

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