quarta-feira, 27 de julho de 2011

Eu não presto, mas eu te amo

Ele era um daqueles sujeitos moderninhos, descolados, de barba por fazer, era até bem bonitinho. Sempre acompanhando a onda cult, culta, oculta, as festas e as feirinhas alternativas. Bem se amarrava em uma música independente, de artistas nobodies, e, apesar dos ares interioranos, sempre estava nos movimentos contemporâneos. Ela, bacana, mais vivida, linda de doer, um pouco mais velha. Descolada, independente, olhos ardentes, corpo perfeito, inteligente, cheirosa e, claro, contemporânea também. Apesar dos ares provincianos, sempre se revelava distante dos códigos sujos e dos nojentos mundanos. O irmão dele era bem diferente. Um cara “bem sucedido”, boa pinta, barba sempre feita, rostinho de bebê, um mauricinho. Tinha o carro do ano, morava no bairro dos novos ricos, casou com uma loira “exemplar” de um e oitenta (daquelas-todas-iguais-que-se-encontra-em-qualquer-esquina), comprou um rolex, um carro importado e tinha o emprego que todo pai pediu a Deus. Quer dizer, pelo menos os pais iguais a ele.

Num belo dia, naquele almoço de domingo na presença de toda a família, todas as tias fazendo crochê e os tios vendo o futebol da tarde, não teve jeito e acabou rolando aquele papo, o que não acontecia há uns dez anos. 

“E aí, como vão as coisas?”. “Vão bem, e com você?”. “Bem também. Comprei ação em mais algumas companhias, estou jogando críquete três vezes por semana, estou malhando na mesma academia daquela atriz da globo e, aos sábados, claro, transo com minha ninfa-deusa. Três vezes, obrigatoriamente. E você?”. “Bom, minha vida não anda tão agitada assim... Não malho, mas sempre vou para o mato. Compro insistentemente um maço de cigarro por dia, às vezes saio, às vezes não. Mas, o que eu tenho feito mesmo é conhecer gente. De tudo quanto é tipo. Recentemente, inclusive, conheci uma figura ímpar em uma dessas idas e vindas. Me apaixonei por uma mulher um pouco mais velha que eu”. “Ela já teve um longo relacionamento, mas a gente está se conhecendo”. “Cara, minha mulher nunca teve relacionamento. Eu é que a (co) rompi.” “É, a minha não...”. “Aliás, nem minha é. Ela é dela”. “Mas, vai aos mesmos lugares que eu, vira e mexe a gente se cruza, muitos amigos, assuntos e vinhos em comum”. “Estou gostando dessa história, acho que vai acabar (ou começar) bem”. “Meu irmãozinho, não se meta nessa roubada. Essa mulher, além de mais velha, deve ser uma puta! Se não casou até os trinta... sai fora! Bom mesmo é pegar mocinhas novinhas, recém-saídas do colinho do papai. Virgenzinhas santas!”. “É mesmo? Não sei... acho que não. Talvez não”. “Claro que é! Ela nunca deu para mais ninguém, só para o papai aqui. É o melhor sexo do mundo, faz tudo que eu mando!”. “É, a minha não... ela já namorou com outros, talvez com outras, experimentou diversas coisas, correu o mundo. Mas, mesmo assim, está me escolhendo”. “Acho que prefiro assim”. “Não, não acredito. E você já perguntou para ela se isso tudo é verdade? Se ela realmente te escolheu ou se é só curtição?”. “Sim, claro!”. “E o que ela respondeu?”. “Bom, no início era só curtição mesmo. Mas... eu também estou gostando bastante de você, lá se vai quase um ano, né? Mas, tenho que te confessar, eu não presto”. “Não falei! É uma puta!!! Não acredito que você vá em frente com isso, nunca terá futuro!”. “Mas vou, claro. O futuro sabe-se lá, quero viver é o meu hoje. Intensamente”. “E o que você disse a ela quando ela te contou isso?”. “Eu também não presto honey, mas eu te amo”. 


E, nessas idas e vindas, no prestar e não prestar, pelo sim, pelo não, até se separaram por um tempo. Mas, não tinha jeito. Depois, se reencontraram e ficaram imprestáveis juntos. Para sempre, pelo menos enquanto durar.

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